domingo, 7 de junho de 2009

A ameaça atômica

A contar da segunda metade do século XIX, o Japão desenvolveu uma política externa fortemente expansionista. Assumiu o controle de áreas historicamente pertencentes a outros países e, no limite, fez delas colônias. Foi esse o caso da Coréia, incorporada ao seu domínio em 1910.
A rendição japonesa que, em 1946, pôs fim à II Guerra Mundial resultou, para os coreanos, numa condição parecida com a da Alemanha antes da derrubada do Muro de Berlim. Surgiram ali, em 1948, dois Estados para uma só nação: a Coréia do Sul, com capital em Seul, sob proteção americana, e a do Norte, amparada pela extinta União Soviética, com governo instalado em Pyongyang.
Em 1950, a Coréia do Norte invadiu a do Sul. O ato foi condenado pelo Conselho de Segurança da ONU que enviou à região forças militares, americanas principalmente, para restabelecer, pelas armas, as fronteiras entre ambos os países. Os norte-coreanos resistiram com o apoio da China, onde há pouco se instalara um governo comunista e, por fim, chegou-se a um armistício que recompôs o estado de coisas existente antes da luta.
A Coréia do Norte tem hoje 23 milhões de habitantes distribuídos por 120 mil km2, metade do Estado de São Paulo, tanto em habitantes quanto em população. Seu PIB de US$ 29,6 bilhões é 16 vezes menor que o da Coréia do Sul (US$ 476,7 bilhões) que, em território ainda menor (99.237 km2) conta com uma população bem maior (48 milhões de pessoas).
O desaparecimento da União Soviética e a abertura econômica chinesa tornaram-na um país cada vez mais isolado.
Kim Il Sung, que a governou como ditador até a morte, em 1994, decidiu alicerçar o orgulho nacional na força militar. Sob o governo do filho, Kim Jong Il, que o sucedeu, inaugurando a primeira dinastia comunista do planeta, a pobreza e a concentração em projetos militares se mantiveram. A Coréia do Norte tem hoje o terceiro maior exército do mundo (950 mil homens), produz armas nucleares e mísseis de alcance variado que lhe permitem atingir inclusive a Europa Ocidental e parte da Costa Oeste americana.
Kim Jong Il fez do poderio militar, em absoluto descompasso com o nível de desenvolvimento do país, parte essencial da identidade norte-coreana e, o que não é menos importante, moeda de negociação com os generais para sua própria sucessão. O querido líder, como é oficialmente tratado, planeja que, após sua morte, o governo passe ao seu filho mais novo.
O Ocidente, que apoiou a invasão do Iraque sob o falso pretexto de desmantelar as armas de destruição em massa que ali, afinal, não existiam, vê-se diante de uma situação difícil, diante das recentes provocações da Coréia do Norte. Nenhuma alternativa proposta ao governo de Pyongyang para que abra mão de seu projeto militar nuclear parece interessar.
Papel fundamental para se tentar a resolução pacífica do delírio militarista do líder norte coreano será desempenhado pela China. O governo de Pequim forneceu a tecnologia para a produção das armas da Coréia do Norte, vem garantindo a sobrevivência da população do país e é seu único elo com o mundo exterior.
Face aos acontecimentos mais recentes, porém, talvez se dê conta, afinal, de que sua aventura ali pode ter um desfecho trágico, do qual a própria China não sairá ilesa.
Desde a segunda metade da década de 1940 o mundo vive sob o equilíbrio do terror entre o arsenal nuclear americano e o das antigas repúblicas soviéticas.
Sem haver conseguido definir um caminho para reduzir os estoques de armas dos atuais integrantes do sinistro Clube Atômico, agora vê bater às portas deste, uma geração de sócios ainda mais instáveis, como a própria Coréia do Norte e o Irã.
A Guerra da Coréia e, mais recentemente, a invasão do Iraque sob o falso pretexto de eliminar armas de destruição em massa, que ali não existiam, nenhum avanço significativo trouxeram à humanidade. Se para alguma coisa serviram, foi para demonstrar quanto é difícil solucionar problemas de segurança internacional pela via militar.
Há, pois, que se agir através da ONU com incontestável firmeza, sim, mas também com enorme cautela para evitar que tenhamos, em Pyongyang, uma reedição ampliada daquelas tragédias inúteis.

Antonio Carlos Pannunzio é deputado federal pelo PSDB-SP, titular da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara

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depois de muito tempo.....